Também conhecido como
glossofobia, o desconforto ao se apresentar para uma plateia pode ser
trabalhado em terapia. Mas algumas atitudes práticas ajudam a contorná-lo
Sentir que esta tremendo e os outros percebem. Só pensa no que vão
achar, fica nervoso e até te dá ‘branco’. Assim algumas pessoas descrevem
alguns dos sintomas de um dos problemas mais comuns da população, segundo
pesquisa de 2010 feita pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos: o medo de
falar em público.
Os principais motivos, à primeira vista, estão intimamente ligados à
insegurança e ao medo de não atender as expectativas alheias. Porém, a raiz do
problema pode ser mais profunda. A autoestima e autoimagem, ligadas à própria
identidade, têm relação direta com a questão do imaginário. A partir do momento
em que se está diante de um público, aquilo que se refere às inseguranças e
frustrações é potencializado.
Podendo também, esse sentimento, ser derivado de um histórico de
punições. Situações em que a pessoa se viu expressando seus sentimentos e
sofreu algum tipo de repressão, e criam um evento traumático, ela passa a temer
a opinião das pessoas.
Conhecido como glossofobia, esse receio em se apresentar pode ter um
efeito negativo em várias áreas. Causa danos na vida profissional, pois somos
cada vez mais solicitados a mostrar o que possuímos e essa ausência faz com que
haja a perda no espaço profissional. Também surgem dificuldades em
relacionamentos interpessoais. Não mostramos quem somos e o que queremos, e
acabamos nos anulando.
Apesar disso, o estresse causado por falar em público é natural do ser
humano, como uma reação instintiva. Não é algo que se deva combater, mas sim
aprender a conviver. “Nós sempre achamos que as pessoas enxergam mais do que
elas realmente veem em nós. Isso nos leva a uma atitude de defesa para evitar a
transparência. Este é o mesmo comportamento que, inconscientemente, nos leva a
procurar as mesas próximas às paredes nos restaurantes ou a evitar sentar com
as costas voltadas para a porta”, exemplifica Mario Persona, palestrante e
autor de sete livros, entre eles “Dia de Mudança” (Editora Landscape).
É preciso um processo de autoconhecimento, tanto dos defeitos quanto das
qualidades individuais, para encontrar a melhor forma de lidar com o próprio
medo de se apresentar em público. Também é importante “descolar” nossos
próprios rótulos. Muitas pessoas são rotuladas de coisas que elas não são, como
preguiçosas ou ignorantes, e passam a se enxergar desse jeito.
Na prática
Mas, às vésperas de uma apresentação em público,
algumas atitudes práticas podem ajudar. Alguns dias antes, experimente
gravar o seu discurso e ouvi-lo depois. Isso ajuda a identificar quais
entonações podem ser melhoradas, e como passar a mensagem de maneira clara. Ao
ouvirmos uma gravação estamos ouvindo como realmente soa a nossa voz, já que ao
falarmos o som chega aos nossos ouvidos alterado pela ressonância da caixa
craniana”, explica Persona.
Se possível, fazer uma visita prévia ao
local. Assim o orador, além de se familiarizar com o espaço, também
presta atenção em possíveis obstáculos que podem atrapalhar na hora do
discurso, como degraus e fios soltos.
Falar na frente de um espelho é eficiente para
memorizar o discurso. No
entanto, não é tão eficaz para o treinamento da fala. O verdadeiro medo é estar
diante do outro e ser observado. Falar na frente do espelho não passa a
verdadeira sensação de estar em pé, falando para um grupo.
Na hora da apresentação, todos os especialistas
recomendam: comece respirando de maneira correta, levando o ar para a
barriga. Quando ficamos ansiosos, a psique associa o momento a uma
situação de perigo e a respiração fica curta. É preciso controlar essa afobação.
É importante mostrar determinação e
confiança ao entrar no palco - mesmo que você não se sinta nem um
pouco confiante. Uma entrada mais agressiva cria confiança no orador
.
Uma boa técnica é falar segurando algo:
pode ser um botão, ou um clipe de papel dentro do bolso. Esse gesto dá
mais segurança, pois funciona como uma espécie de apoio em um território
desconhecido. “Como o medo é causado por insegurança, existe em nós certo
alívio quando podemos segurar em alguma coisa”, exemplifica Persona.
Para lutar contra a perda de memória, o famoso
‘branco’, o escritor dá duas dicas. A primeira é relaxar e manter na
mente que, de todas as pessoas que estão ouvindo, provavelmente uma só conheça
o discurso. Logo, ninguém vai saber se o apresentador errou ou não.
A segunda é anotar as palavras-chave do
discurso em algum lugar. Não há problema em ler durante a
apresentação; só não se esqueça de escrever como deve ser dito. Faça suas
anotações em uma apresentação de Power Point ou em pequenos cartões de fácil
manuseio. “Nunca se deve usar uma folha inteira de papel, pois
o tremor das mãos é amplificado e percebido pelo balançar da folha, e mesmo ao
segurar os cartões o melhor é fazê-lo com as duas mãos para evitar este
efeito”, indica Mário Persona.
Caso se sinta muito exposto, uma estratégia
interessante: crie um personagem e se apresente como ele. Essa
criação de uma nova identidade atenua a sensação de exposição. É como atuar:
não é você que está ali e sim alguém mais seguro ou falante.
Um bom orador é aquele que tem presença de palco e
abordagem natural do tema. Para fugir do artificialismo na hora da fala, comece
contando algum fato ou história trivial. Esse artifício ajuda na hora
de iniciar a fala sobre o tema de maneira segura e fluída.
Encare os participantes apenas se sentir segurança
para tal. Olhar
nos olhos dos ouvintes e depois desviar olhando para baixo transparece
insegurança, fazendo com que a credibilidade do que está sendo dito seja
questionada. Caso não se sinta apto a fazer isso, imagine que existe
uma fileira após a última linha de ouvintes e fale olhando para lá.
A energia que você passa para a plateia é
fundamental, assim como a que recebe de volta. Desvie dos olhares
negativos e procure encontrar nos ouvintes aqueles que parecem mais felizes e
concordam com o que está sendo dito. “Falar em público é uma atividade
que depende não só de quem fala, mas também de quem ouve. Existe uma simbiose
entre ambos”, finaliza o palestrante Mário Persona.
Fonte: Bianca
Castanho - iG São Paulo
Postado por: Ana Cláudia Foelkel Simões - Psicóloga - (11) 97273-3448
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