sexta-feira, 24 de maio de 2013

ESQUIZOFRENIA

Delírios e alucinações são alguns dos sintomas da esquizofrenia.
A esquizofrenia é um distúrbio mental grave caracterizado por uma perda de contato com a realidade (psicose), alucinações, delírios, pensamento anormal e mudança de comportamento.
A esquizofrenia é um problema de saúde pública em todo o mundo. A prevalência da esquizofrenia no mundo está em torno de 1%; em alguns lugares mais, noutros menos. Em alguns países, as pessoas com esquizofrenia ocupam cerca de 25% dos leitos hospitalares. A esquizofrenia tem maior prevalência do que o mal de Alzheimer, o diabetes ou a esclerose múltipla.
Há vários transtornos que têm características semelhantes à esquizofrenia. São chamados de transtornos esquizofreniformes. Os transtornos nos quais os episódios de psicose duram pelo menos um dia, porém menos de um mês, chamam-se transtornos psicóticos breves. Um transtorno caracterizado por sintomas de humor, como a depressão ou a mania, juntamente com outros sintomas típicos da esquizofrenia, chama-se transtorno esquizoafetivo. Um transtorno de personalidade que pode partilhar sintomas da esquizofrenia, mas no qual os sintomas não são tão graves como os de uma psicose, chama-se transtorno de personalidade esquizotípica.

Causas:
Embora a causa específica da esquizofrenia seja desconhecida, o distúrbio tem, nitidamente, uma base biológica. Muitas autoridades no assunto aceitam um modelo de "vulnerabilidade ao estresse", no qual se considera a esquizofrenia como um fenômeno que ocorre em pessoas biologicamente vulneráveis. Ainda não se sabe o que torna as pessoas vulneráveis à esquizofrenia, mas podem estar incluídas a predisposição genética, os problemas que ocorreram antes, durante ou depois do nascimento ou uma infecção viral do cérebro. De um modo geral, podem manifestar vulnerabilidade, dificuldade para processar a informação, incapacidade para prestar atenção, dificuldade para se comportar de modo socialmente aceitável e impossibilidade de enfrentar os problemas. Nesse modelo, o estresse ambiental, como acontecimentos estressantes da vida ou problemas de abusos de substâncias tóxicas, desencadeia o início e o reaparecimento da esquizofrenia nos indivíduos vulneráveis.

Sintomas

A esquizofrenia começa mais frequentemente entre os 18 e os 25 anos nos homens e entre os 26 e os 45 anos nas mulheres. No entanto, não é raro que comece na infância ou no início da adolescência. A instalação pode ser súbita, num intervalo de dias ou de semanas, ou lenta e insidiosa, ao longo de anos.
A gravidade e o tipo dos sintomas podem variar significativamente entre diferentes pessoas com esquizofrenia. Em geral, os sintomas se dividem em três grandes categorias: delírios e alucinações, alteração do pensamento e de comportamento excêntrico e sintomas negativos. Uma pessoa pode ter sintomas de um ou dos três grupos. Os sintomas são graves o suficiente para interferir com a capacidade de trabalho, de relacionamento com as pessoas e da própria higiene e cuidado.
Os delírios são uma manifestação mental pela qual a pessoa faz um juízo errado do que vê ou ouve. Por exemplo, as pessoas com esquizofrenia podem ter delírios persecutórios, crendo que estão sendo atormentadas, perseguidas, enganadas ou espiadas. Podem ter delírios de referência, crendo que certas passagens dos livros, dos jornais ou das músicas se dirigem especificamente a elas. Estas pessoas podem ter delírios de roubo ou de imposição do pensamento, crendo que outros podem ler as suas mentes, que os seus pensamentos são transmitidos a outros ou que os seus pensamentos e impulsos lhes são impostos por forças externas. Podem ocorrer alucinações de sons, de visões, de cheiros, de gostos ou do tato, embora as alucinações de sons (alucinações auditivas) sejam, de longe, as mais frequentes. Uma pessoa pode "ouvir" vozes que comentam o seu comportamento, que conversam entre elas ou que fazem comentários críticos e abusivos.
A alteração do pensamento consiste no pensamento desorganizado, que se torna evidente quando a expressão é incoerente, muda de um tema para outro e não tem nenhuma finalidade. A expressão pode estar levemente desorganizada ou ser completamente incoerente e incompreensível. O comportamento excêntrico pode tomar a forma de simplismos de caráter infantil, agitação ou aparência, higiene ou comportamento inadequados. O comportamento motor catatônico é uma forma extrema de comportamento excêntrico no qual uma pessoa pode manter uma postura rígida e resistir aos esforços para se mexer ou, pelo contrário, mostrar atividade de movimentos sem estímulo prévio e sem sentido.

Os sintomas negativos da esquizofrenia incluem frieza de emoções, ausência de expressão, anedonia e associabilidade.
A frieza de emoções é uma diminuição destas. O rosto da pessoa pode parecer imóvel; tem pouco contato visual e não exprime emoções. Não há resposta perante situações que normalmente fariam uma pessoa rir ou chorar.
A ausência de expressão é uma diminuição de pensamentos refletida no fato de a pessoa falar pouco. As respostas às perguntas podem ser sucintas, uma ou duas palavras, dando a impressão de vazio interior.
A anedonia é uma diminuição da capacidade de experimentar prazer; a pessoa pode mostrar pouco interesse em atividades prazerosas e passar mais tempo em atividades inúteis.
A associabilidade é a falta de interesse em relacionar-se com outras pessoas. Estes sintomas negativos estão, frequentemente, associados a uma perda geral da motivação, do sentido de projeto e de objetivos.

Tipos de Esquizofrenia

Alguns pesquisadores acreditam que a esquizofrenia é um distúrbio isolado, enquanto outros pensam que é uma síndrome (um conjunto de sintomas baseados em numerosas doenças subjacentes). Foram propostos subtipos de esquizofrenia num esforço para classificar os pacientes em grupos mais homogêneos. No entanto, num mesmo paciente, o subtipo pode variar ao longo do tempo.
A esquizofrenia paranóide caracteriza-se por delírios ou alucinações auditivas; a expressão desorganizada e as emoções inadequadas são menos marcantes. A esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada caracteriza-se por expressão desorganizada, comportamento desorganizado e emoções diminuídas ou inadequadas. A esquizofrenia catatônica caracteriza-se por sintomas físicos como a imobilidade, a atividade motora excessiva ou a adoção de posturas excêntricas. A esquizofrenia indiferenciada caracteriza-se, muitas vezes, por sintomas de todos os grupos: delírios e alucinações, alteração do pensamento e comportamento excêntrico e sintomas negativos.
Mais recentemente, classificou-se a esquizofrenia de acordo com a presença e a gravidade dos sintomas negativos. Nas pessoas com o subtipo negativo de esquizofrenia são predominantes os sintomas negativos, como a frieza das emoções, a ausência de motivação e a diminuição do sentido de projeção. Nas pessoas com esquizofrenia paranóide predominam os delírios e as alucinações, mas em ocasiões raras podem apresentar-se alguns sintomas negativos. Em geral, as pessoas com esquizofrenia não negativa tendem a ser menos gravemente incapacitadas e a responderem melhor ao tratamento.

Diagnóstico

Não existe uma prova de diagnóstico definitiva para a esquizofrenia. O psiquiatra elabora o diagnóstico baseando-se numa avaliação do histórico da pessoa e dos seus sintomas. Para estabelecer o diagnóstico de esquizofrenia, os sintomas devem durar pelo menos 6 meses e estarem associados à deterioração significativa no trabalho, nos estudos ou no convívio social. Muitas vezes, a informação procedente da família, dos amigos e dos professores é importante para estabelecer quando a doença começou.
O médico deverá descartar a possibilidade de os sintomas psicóticos do paciente serem causados por um distúrbio afetivo. Com frequência, são feitos exames de laboratório para descartar o abuso de substâncias tóxicas ou uma doença subjacente de natureza endócrina ou neurológica que possa ter algumas características de psicose. Exemplos desse tipo de doença são os tumores cerebrais, a epilepsia do lobo temporal, as doenças autoimunes, a doença de Huntington, as doenças hepáticas e as reações adversas aos medicamentos.
As pessoas com esquizofrenia têm anomalias cerebrais que podem ser vistas na tomografia computadorizada (TC) ou na ressonância magnética (RM). No entanto, os defeitos não são suficientemente específicos para ajudar isoladamente no diagnóstico da esquizofrenia.

Prognóstico

A curto prazo (1 ano), o prognóstico da esquizofrenia está intimamente relacionado com o grau de fidelidade com que a pessoa cumpre o plano do tratamento medicamentoso. Sem tratamento medicamentoso, 70% a 80% das pessoas que têm um episódio de esquizofrenia terão durante os 12 meses seguintes um novo episódio. A administração contínua de medicamentos pode reduzir para cerca de 30% a proporção de recaídas.
A longo prazo, o prognóstico da esquizofrenia varia. De um modo geral, um terço dos casos consegue uma melhoria significativa e duradoura, outro terço melhora de certo modo com recaídas intermitentes e incapacidade residual e outro terço experimenta uma incapacidade grave e permanente. Um prognóstico bom ocorre quando há os seguintes fatores: começo súbito da doença, início na idade adulta, bom nível prévio de capacidade intelectual e subtipo paranóide. Os fatores associados a um mau prognóstico incluem um início em idade precoce, um escasso convívio social e profissional prévio, um histórico familiar de esquizofrenia e o subtipo hebefrênico ou negativo.
A esquizofrenia tem um risco associado de suicídio de 10%. Em média, a esquizofrenia reduz em 10 anos a expectativa de vida.

Tratamento

Os objetivos gerais do tratamento são os seguintes: reduzir a gravidade dos sintomas psicóticos, prevenir o reaparecimento dos episódios sintomáticos e a deterioração associada do funcionamento do indivíduo e administrar um apoio que permita ao paciente um funcionamento ao máximo nível possível. Os medicamentos antipsicóticos, a reabilitação e as atividades com apoio comunitário e a psicoterapia são os três componentes principais do tratamento.
Os medicamentos antipsicóticos podem ser eficazes para reduzir ou extinguir sintomas como os delírios, as alucinações e o pensamento desorganizado. Uma vez que os sintomas do surto agudo tenham desaparecido, o uso contínuo dos medicamentos antipsicóticos reduz substancialmente a probabilidade de episódios futuros. Infelizmente, os antipsicóticos têm efeitos colaterais significativos, como sedação, rigidez muscular, tremores e aumento de peso. Esses medicamentos também podem causar discinesia tardia - movimentos involuntários dos lábios e da língua e contorções dos braços e das pernas. A discinesia tardia pode continuar mesmo depois de suspender-se a administração do medicamento. Para esses casos persistentes não existe tratamento eficaz.
Cerca de 75% das pessoas com esquizofrenia respondem aos medicamentos antipsicóticos convencionais, como a clorpromazina, a flufenazina, o haloperidol ou a tioridazina. Mais da metade dos 25% restantes podem responder a um fármaco antipsicótico relativamente novo chamado clozapina. Como a clozapina pode ter graves efeitos colaterais, como convulsões ou lesão da medula óssea potencialmente fatal, usa-se geralmente só para os pacientes que não reagiram aos outros medicamentos.
A contagem de glóbulos brancos (leucócitos) deve ser feita semanalmente nas pessoas que tomam clozapina. Existem pesquisas em andamento para identificar novos remédios que não tenham os efeitos colaterais potencialmente graves da clozapina. A risperidona também é utilizada e vários outros medicamentos estão sendo desenvolvidos.
A reabilitação e as atividades de apoio são direcionadas a ensinar as habilidades necessárias para conviver em sociedade. Essas habilidades permitem às pessoas com esquizofrenia trabalhar, fazer compras, cuidar de si mesmas, manter uma casa e relacionar-se com outras pessoas. Embora possam ser necessárias a hospitalização durante as recaídas graves e a hospitalização forçada se o doente representar um perigo para si mesmo ou para outros, o objetivo geral é conseguir que as pessoas com esquizofrenia vivam dentro da comunidade.
Para alcançar esse objetivo algumas pessoas precisam viver em apartamentos vigiados ou em grupos com alguém que possa assegurar que tomam a medicação prescrita.
Um pequeno número de pessoas com esquizofrenia é incapaz de viver de modo independente, porque têm sintomas de irresponsabilidade grave ou porque não possui as habilidades necessárias para viver em sociedade. Essas pessoas necessitam de uma atenção permanente num ambiente seguro, com apoio.
A psicoterapia é outro aspecto importante do tratamento. Geralmente, o objetivo da psicoterapia é estabelecer uma relação de colaboração entre o doente, a família e o médico. Desse modo, o paciente pode compreender e aprender a lidar com a sua doença, a tomar os medicamentos antipsicóticos como lhe foram prescritos e a contornar as situações estressantes que possam agravar a doença.


Ana Cláudia Foelkel
Psicóloga - CRP: 06/86466
Jundiaí e Região
(11) 97273-3448

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