É "a reação complexa a uma ameaça
perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade.". Provoca o temor da
perda e envolve sempre três ou mais pessoas, a pessoa que sente ciúmes -
sujeito ativo do ciúme -, a pessoa de quem se sente ciúmes - sujeito analítico
do ciúme - e a terceira ou terceiras pessoas que são o motivo dos ciúmes - o
que faz criar tumulto.
Esse sentimento apresenta caráter instintivo
e natural, sendo também, marcado pelo medo, real ou irreal, vergonha de se
perder o amor da pessoa amada. O ciúme está relacionado com a falta de
confiança no outro e/ou em si próprio e, quando é exagerado, pode tornar-se
patológico e transformar-se em uma obsessão.
A explicação psicológica do ciúme pode ser
uma persistência de mecanismos psicológicos infantis, como o apego aos pais que
aparece por volta do primeiro ano de vida ou como consequência do Complexo
de Édipo não resolvido; entre os quatro e seis anos de idade, a criança se
identifica com o progenitor do mesmo sexo e simultaneamente tem ciúmes dele
pela atração que ele exerce sobre o outro membro do casal; já na idade adulta,
essas frustrações podem reaparecer sob a forma de uma possessividade em relação
ao parceiro, ou mesmo uma paranoia.
Nesse tipo de paranoia, a pessoa está
convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade do parceiro e passa a
procurar “evidências” da traição. Nas formas mais exacerbadas, o ciumento passa
a exigir do outro, coisas que limitam a liberdade deste.
Algumas teorias consideram que os casos mais
graves podem ser curados através da psicoterapia que passa por um
reforço da autoestima e da valorização da autoimagem. Porém várias teorias
criticam a visão psicanalítica tradicional (ex:esquizoanálise).
Outros casos mais leves podem ser tratados
através da ajuda do parceiro, estabelecendo-se um diálogo franco e aberto de
encontro, com a reflexão sobre o que sentem um pelo outro e sobre tudo o que
possa levar a uma melhoria da relação, para que esse aspecto não se torne
limitador e perturbador.
Conjunto de emoções
-Ciúme é uma reação complexa porque envolve um
largo conjunto de emoções, pensamentos, reações físicas e comportamentos:
-Emoções - dor, raiva, tristeza, inveja, medo, depressão e humilhação;
-Pensamentos - ressentimento, culpa,
comparação com o rival, preocupação com a imagem, autocomiseração;
-Reações físicas - taquicardia, falta de
ar, excesso de salivação ou boca seca, sudorese, aperto no peito, dores
físicas.
-Comportamentos - questionamento
constante, busca frenética de confirmações e ações agressivas, mesmo violentas.
Ciúme e inveja
O ciúme está intimamente relacionado à inveja.
A diferença é que a inveja não envolve o sentimento de perda presente no ciúme.
Mas ambas, são um misto de desconforto e raiva e atormentam aquele que cobiça
algo que outra pessoa tem. Quanto mais baixa for a autoestima, mais propensa
está a pessoa de sofrer com um dos dois sentimentos.
Outra diferença entre ambos reside no fato do
ciúme, quando ultrapassa certo limite, se transforma em patologia, coisa que
não acontece com a inveja.
Ciúme e inveja desviam o foco dos cuidados
com a própria vida, tão preocupado se fica com a vida de outra pessoa. Por
outro lado, se enfrentados, podem levar a atitudes positivas como melhorar a
aparência, desenvolver novas habilidades e trabalhar a autoestima.
Ciúme patológico
O ciúme patológico é visto pela psiquiatria e
psicologia como uma espécie de paranoia (distúrbio mental
caracterizado por delírios de perseguição e pelo temor imaginário de a pessoa
estar sendo vítima de conspiração). Para o ciumento, a fronteira entre
imaginação, fantasia, crença e certeza se torna vaga e imprecisa, as dúvidas
podem se transformar em ideias supervalorizadas ou delirantes.
Quem sente ciúme a esse nível tem a compulsão
de verificar constantemente as suas dúvidas, a ponto de se dedicar
exclusivamente a invadir a privacidade e tolher a liberdade do parceiro: abre
correspondências, bisbilhota o computador, ouve telefonemas, examina bolsos,
chega a seguir o parceiro ou contrata alguém para fazê-lo. Toda essa tentativa
de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio
ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida, até o intensifica.
A pessoa ciumenta apresenta na sua
personalidade um traço marcante de timidez e sentimentos de
insegurança, problemas que costumam ter raízes na infância. Nesse caso, o
tratamento passa por aplicação de técnicas de psicoterapia para melhorar a
confiança do paciente em si mesmo. O processo deve envolver sua família, pois o
apoio no lar é imprescindível nesses casos. Reduzido o sentimento de
insegurança, é esperado que, diminua a aflição do ciúme. Só quem confia em si
mesmo pode confiar em outros, de modo que parece lógico começar o tratamento
pelo fortalecimento da autoconfiança.
Não menos importante é atacar os sintomas
físicos que o ciúme patológico provoca. O desequilíbrio no sistema nervoso
aumenta o nível de adrenalina, interfere na dinâmica dos neurotransmissores e
está na origem de muitas doenças psicossomáticas. Por isso, é fundamental
apurar as causas desses sintomas e gastar a energia negativa em atividades como
os exercícios físicos, meditação e trabalho que traga gratificação.
Os ciúmes manifestam-se em todas as relações,
com mais ou menos frequência, com mais ou menos intensidade – daí a importância
de perceber quais tipos de ciúmes: inocente ou possessivo? Saudável ou doentio.
Ciúmes inocentes: uma pitada de ciúme
nunca fez mal a ninguém, nem é o suficiente para colocar um ponto final em
qualquer relação. É perfeitamente normal uma mulher sentir ciúmes ao
ver o namorado a folhear uma revista com fotografias da sua atriz preferida e
elogiar os seus muitos atributos; o mesmo se diz de um homem que não pode
negar o ciúme que se manifesta quando a namorada sai para jantar só com as
amigas num vestido de arrasar. Inocentes e inofensivos, este tipo de ciúme
apenas demonstra o amor que se sente por outra pessoa.
Ciúmes saudáveis: se um membro do sexo
oposto aprecia abertamente o seu parceiro (a) à sua frente, é natural que sinta
uma pontada de ciúmes, mas esse acaba por ser um sentimento simultaneamente
ciumento e de orgulho porque, embora ele/ela seja alvo de atenção de outro homem
ou mulher, é consigo que está. Curiosamente, este tipo de ciúmes tem a
tendência de aproximar os casais.
Ciúmes românticos: muitas vezes o ciúme
é uma resposta protetora, cognitiva, emocional e comportamental a qualquer
fator externo que possa ameaçar um relacionamento a dois. No caso dos ciúmes
românticos, essa ameaça é a existência de uma terceira pessoa (real ou
imaginária) e a simples ideia de que possa existir uma atração entre ela e o
seu parceiro (a), desencadeia um turbilhão de pensamentos, sentimentos e ações
que são manifestadas em contexto de ciúme.
Ciúmes sexuais: este tipo de ciúme tem
na sua base o conhecimento ou a suspeição de que o seu parceiro (a) já teve,
fantasiou ter ou deseja ter relações sexuais com uma terceira pessoa.
Ciúmes emocionais: neste caso, a pessoa
ciumenta sente-se ameaçada pelo envolvimento ou ligação emocional e/ou amor do
seu companheiro (a) por uma terceira pessoa, que tanto pode ser uma amiga ou um
amigo, um familiar ou colega de trabalho.
Ciúmes obsessivos: quando ao sentimento
de ciúme se junta a obsessão em saber todos os passos que o seu parceiro (a) dá
sem si, os ciúmes numa relação atingem um nível mais perigoso e pouco saudável.
A obsessão com a pessoa amada e o medo de perdê-la pode não só levar aos ciúmes
possessivos e a um controle excessivo sobre essa pessoa, como pode conduzir a
agressões verbais e físicas.
Não será errado afirmar que, no início de
qualquer relação, tudo é um mar de rosas e só após algum tempo é que começam a
surgir os espinhos. No caso dos ciúmes, estes até podem ser saudáveis e
inofensivos, mas é preciso saber quando é que deixam de ser inocentes. Conheça
os sinais de perigo.
Interrogatórios excessivos. A pessoa que
têm muito ciúmes do seu companheiro (a) têm por hábito questioná-lo acerca de
tudo o que se passou no seu dia ou numa saída com amigos. Os interrogatórios
são longos e até aborrecidos porque a pessoa ciumenta quer saber tudo o que
aconteceu – até o menor detalhe – durante o tempo em que não estiveram juntos.
Comentários sobre a forma como se veste. Este
é um clássico, principalmente quando surge repentinamente e pode incluir desde
comentário negativo sobre roupa que não lhe fica bem (mesmo que fique) a
“proibições” claras sobre o que pode ou não vestir, sendo que muitas vezes a
pessoa ciumenta admite que apenas possa vestir determinada roupa quando sai com
ele/ela.
Escolta pessoal para todo o lado. Os
ciúmes também se manifestam através da vontade e insistência contínua para
acompanhar ou levar o companheiro (a) a todo e qualquer lugar, mesmo aos mais
habituais ou desinteressantes. Há quem faça questão de ir buscar o seu parceiro
(a) ao trabalho, simplesmente porque não quer que ele/ela vá tomar um café ou
um chopp com os colegas de escritório no final do dia, por exemplo.
Dezenas de telefonemas diários. Se todos
os dias, recebe dezenas de telefonemas ou SMS do (a) seu (sua) namorado (a)
para perguntar onde está, o que faz, com quem, até que horas e por que… você
está sendo controlado (a) por uma pessoa ciumenta. Não confunda preocupação com
possessão.
Zanga-se se olha para alguém do sexo
oposto. Por norma, quem tem ciúmes – seja homem ou mulher –
sofre de baixa autoestima/autoconfiança e vive com receio de perder o seu (sua)
parceiro (a), ou seja, o simples fato de olhar para alguém do sexo oposto
(mesmo que seja inocentemente), é o suficiente para desencadear uma cena de
ciúmes. Para, além disso, muitas vezes, a pessoa ciumenta acusa o (a) seu (sua)
companheiro (a) de estar olhando para outro homem ou outra mulher, mesmo que
não esteja.
Interferência na vida social. As
relações amorosas são apenas uma parte da vida social de qualquer pessoa, que
geralmente inclui ainda amigos, família e passatempos pessoais. As pessoas
ciumentas tentam muitas vezes minar os planos do (a) seu (sua) companheiro (a)
porque, para além de terem medo de estarem ou de ficarem sozinhos, não gostam
da ideia do (a) seu (sua) parceiro (a) fazer planos e divertir-se sem ele/ela.
É habitual fazerem planos mesmo sabendo que o (a) namorado (a) já tem algo
combinado, mas obrigam a desmarcar os seus. Aos poucos, podem tentar afastar o
(a) seu (sua) parceiro (a) de todas as outras pessoas que fazem parte da sua
vida.
Discussões frequentes. Numa relação em
que uma das partes é ciumenta, as discussões são frequentes e intensas,
normalmente desencadeadas por “pequenos nadas” e alastrando para cenas de
ciúmes desproporcionais. Estas discussões podem ainda ser marcadas por um tom
dominante por parte da pessoa ciumenta, que pode mesmo ameaçar verbal ou
fisicamente o (a) outro (a).
Vigilância constante. Quem é ciumento
procura controlar cada passo dado pelo seu (sua) parceiro (a) – desde verificar
as chamadas e SMS do celular, até ler os e-mails e abrir uma correspondência,
passando por mexer na carteira, bolsos de casacos e até segui-lo. Pode estar
controlando o (a) seu (sua) parceiro (a) aparecer frequentemente de “surpresa”
no local onde costuma almoçar com os colegas de trabalho ou se cruzarem por
“coincidência” no lugar onde combinou de tomar café com um (a) amigo (a).
Acusações de infidelidade. Mais do que ter
ciúmes, as pessoas ciumentas têm necessidade de comunicá-los, ou seja, qualquer
situação – trabalhar até tarde, um almoço de família ou uma má disposição – que
obrigue os elementos do casal a estarem separados, serve para a pessoa ciumenta
acusar o (a) outro (a) de ser infiel.
Cenas de ciúmes. Uma relação marcada
pelo ciúme é invariavelmente marcada por cenas de ciúmes e estas tanto podem
ser em privado, como em público. Porém, se cada saída acaba por ser estragada
por um ataque de ciúmes – independentemente de estarem rodeados de amigos,
familiares ou estranhos – é porque alguém estava controlando alguém, em vez de
desfrutar da sua companhia.
Postado por: Ana Cláudia Foelkel Simões
Psicóloga Clínica e Terapeuta
(11) 97273-3448